26 de outubro de 2012
1 de outubro de 2012
Fonte: diplomatizzando.blogspot.com.br
Essa eu compartilho vorazmente! Um festival de sensatez e bom senso! Leiam!
O primeiro-ministro de Portugal: “Nosso objetivo é tirar o Estado da economia, acabar com o Estado patrão, dono de empresas. Pretendemos atrair capital novo e deixar atuar a livre iniciativa”

Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro de Portugal: "As medidas de austeridade que estamos adotando não são a origem do problema. São parte da solução" (Foto: Mario Proença / Bloomberg / Getty Images)
Essa eu compartilho vorazmente! Um festival de sensatez e bom senso! Leiam!
O primeiro-ministro de Portugal: “Nosso objetivo é tirar o Estado da economia, acabar com o Estado patrão, dono de empresas. Pretendemos atrair capital novo e deixar atuar a livre iniciativa”
Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro de Portugal: "As medidas de austeridade que estamos adotando não são a origem do problema. São parte da solução" (Foto: Mario Proença / Bloomberg / Getty Images)
Fonte: www.genizahvirtual.com
Pra não dizer que não falei de política - O cenário político no alvorecer do cristianismo e o papel do cristão na política hodierna
Manoel dC
Introdução
Quem me conhece sabe que abomino politicagem e os malabarismos da política partidária. Mas por outro lado, sou muito inclinado a aceitar a boa política, que ajuda as pessoas a viverem na cidade, como diz o apóstolo Paulo, na polis, do modo digno do Evangelho de Cristo, uma política não utópica, que provê maior dignidade as pessoas, que ensina “a pescar”, que fornece acesso à educação, e capacita o cidadão com senso crítico, tornando-o livre, cônscio de seus direitos, e capaz de transformar outros indivíduos, famílias e bairros e mudar o quadro de miséria e ignorância do contexto de uma cidade inteira.
Nosso sistema político está apodrecido até a espinha dorsal e como o pecado que se alastra, está corrompido no seu início, meio e fim. A história política do Brasil nos mostrou que a maioria eleita pelo povo sofrido (que sempre é visto como massa de manipulação e moeda de troca), quando assumiu cargos públicos, inicialmente começou até com boas intensões, mas depois se tornou egocêntrica incontrolável, possessa de ganância, se alastrando no congresso nacional, nos governos e nas prefeituras, nas assembleias e tribunais, como ratos de esgoto insaciáveis, roubando, extorquindo, desviando verbas, malversando o dinheiro público e cometendo todo tipo de bandidagens. O pior é que o dinheiro, a influência e a autoridade que lhes são imputados os resguardam na impunidade, e jamais são condenados ou presos. Essa situação indigna só cresce, em face de pobreza extrema que gera toda sorte de malefícios à sociedade brasileira, um tumor purulento que supura corrupção e desmandos.
— A situação do Império Romano dominando a Palestina.
Por outro lado, para aqueles que são avessos à política e querem uma distância substancial dela, devem ser esclarecidos de que NÃO SE PODE LER O NOVO TESTAMENTO SEM O MÍNIMO DE CONHECIMENTO POLÍTICO e sem ser munidos de uma noção básica quanto à expectativa (política) dos cidadãos que povoavam as cidades da Palestina da época de Jesus e aguardavam a vinda de um Messias Libertador prometido pelos profetas do Antigo Testamento, que viria para acabar com a tirania opressora do Império Romano para sempre.
A história do nascimento de Jesus tão romanticamente contada por professoras piedosas em flanelógrafo, mostrando a família sagrada, o menino Jesus na palha da manjedoura junto como os pastores, bois e burrinhos esconde o pulso latejante do coração pisoteado do cidadão comum que vivia no território de Israel, cuja pirâmide social desproporcional era composta por uma pequena fatia na classe alta com os ricos saduceus, rabinos e sacerdotes do templo, esmagada no meio pela classe média que consistia de negociantes, fazendeiros e artesãos e tendo a base inchada da pirâmide, a esmagadora classe baixa com seus milhões de nômades sem terra, escravos, prostitutas, mendigos, loucos e enfermos de todo tipo, os pobres da terra, ESSES DESPREZADOS QUE FORAM O FOCO PRINCIPAL DA ATENÇÃO E AMOR DIRECIONADOS POR JESUS DE NAZARÉ QUE GEROU OS MILAGRES, A LIBERTAÇÃO E O BEM ESTAR DE MUITOS, MAS TAMBÉM A IRA DOS RELIGIOSOS CHEIOS DE ASSEPSIA MORALISTA. Os cobradores de impostos e publicanos faziam parte da classe baixa, apesar de serem ricos abastados.
Já há muito tempo Israel como nação não provava o que era liberdade. Desde a saída do cativeiro na Babilônia, foram dominados pela Grécia, pelos Ptolomeus (Egito), pelos Selêucidas (Síria) e depois de um período curto de liberdade conquistado pelos macabeus, para depois serem dominados pelos romanos. No tempo de Jesus, as taxas e impostos eram impraticáveis, e o povo não tinha maiores esperanças, a não ser apostar todas as fichas na vinda do Messias que viria libertar o povo da mão despótica do Império.
— A situação religiosa e os partidos políticos na Palestina.
- Os fariseus
Eram os separados do povo, observadores escrupulosos das leis rabínicas e mosaicas, não se aproximavam dos pecadores e impuros cerimoniais. Eram radicais conservadores que não se submetiam aos costumes da helenização, não aceitavam o domínio romano, no entanto, discordavam passivamente sem usarem a força das armas.
- Os saduceus
Eram ricos opulentos, detinham o poder político e religioso, mantinham o rendoso comércio de sacrifícios de animais no templo, controlavam a classe sacerdotal e a guarda do templo. Eram progressistas e tolerantes com a expansão dos costumes greco-romanos.
- Os essênios
Eram os separados do mundo. Não sacrificam no templo de Jerusalém, pois reputavam o templo poluído por um sacerdócio corrupto. Só usavam vestes brancas, considerando-se o remanescente exclusivo dos últimos dias.
- Os herodianos
Eram uma pequena minoria de judeus influentes que pertenciam à aristocracia de sacerdotes saduceus que por sua vez, apoiavam a dinastia herodiana e o governo romano que pusera Herodes, o Grande, como rei “marionete” em Jerusalém. Este, por sua vez, querendo “limpar sua barra” diante da antipatia geral dos judeus, construiu o fabuloso templo que Jesus pisou e ensinou muitas vezes.
- Os zelotes
Em contraposição, os zelotes eram revolucionários radicais, favoráveis à barrocada do despotismo romano, recusavam-se a pagar impostos, tributos e taxas, como subversivos inconsequentes que eram, empreenderam diversas revoltas e rebeliões contra o Império.
- Os escribas
Eram um grupo de profissionais, rabinos, doutores, mestres e advogados da Lei. Interpretavam e ensinavam a Lei do Antigo Testamento e tomavam decisões judiciais sobre casos que eram trazidos no cotidiano para resolverem. Interpretavam os preceitos da Lei e a aplicavam ao contexto da vida diária. A maioria dos escribas faziam parte da seita dos fariseus.
- O sinédrio
O superior tribunal dos judeus era o Grande Sinédrio. Reuniam-se na área do templo todos os dias, com exceção dos sábados e dias santificados. O sumo sacerdote presidia setenta juízes, ou anciãos, vindos dos partidos dos fariseus e saduceus. São “ as autoridades”, o “concílio”, “os principais sacerdotes”, os “anciãos e escribas” mencionados no Novo Testamento.
- O colégio apostólico e suas tendências internas.
Jesus, um rabino.
Jesus era considerado um rabino, pois possuía um corpo de discípulos postulantes, falava com autoridade de mestre sempre pondo à frente de suas assertivas a frase “em verdade, em verdade lhes digo”, falava com estruturas rítmicas fáceis de memorizar através das famosas parábolas e se utilizava de perguntas de retórica devolvendo a pergunta com a finalidade de melhor assimilação das verdades proferidas: “que vos parece?”.
JESUS NÃO APOIOU NENHUM DOS PARTIDOS POLÍTICOS OU SEITAS RELIGIOSAS DE SUA ÉPOCA, ao contrário, sempre batia de frente a hipocrisia religiosa, as injustiças sociais, as atitudes imorais das autoridades, até chamando Herodes de raposa, sempre mostrando os postulados do Reino de Deus demonstrado por ações concretas de transformação social, através de um amor prático operando milagres e defendendo a causa dos desmerecidos, curando-os e elevando sua autoestima e dignidade.
Tendências políticas no colégio apostólico. Os discípulos eram zelotes?
- Mateus e Simão
No corpo de discípulos havia pessoas de posturas políticas bem distintas. Exemplo disso é Mateus e Simão. Mateus era um cobrador de impostos, abertamente um colaboracionista do império romano. Por outro lado Jesus chama um subversivo, Simão, o zelote, absolutamente contra o império romano.
- Pedro e outros
Oscar Culmman defende a ideia de que Pedro tenha um comportamento zelote. Senão vejamos. Pedro era um líder natural de temperamento agressivo entre os discípulos, sempre assumindo a liderança do grupo dos seguidores de Cristo. Um dos possíveis indícios do pensamento zelote em Pedro foi o que aconteceu na noite fatídica do Getsêmane, mantendo uma adaga escondida debaixo do manto (costume zelote), quando estavam prendendo Jesus, desceu a adaga afiadíssima para atingir em cheio a cabeça de Malco, um dos soldado da guarda do templo, e este, tendo desviado por reflexo, foi atingido, mas o golpe atinge somente a orelha. Cullmman também garante que os irmãos Tiago e João não eram apelidados à toa de filhos do trovão, e quando os samaritanos rejeitaram os ensinamentos de Jesus, eles, se tivessem tal poder, mandariam descer fogo do céu para destruir os rebeldes impenitentes, uma atitude típica de zelotes radicais. Mais um: Judas Iscariotes. O nome não significaria “Homem de Keriot” mas pode ter vindo do arcádio Scarius, que significa revolucionário. A atitude de trair Jesus seria mais por decepção ideológica, pelo fato de ver Jesus, que se intitulava o Messias Libertador, pregar um reino de amor, de deposição das armas, de tolerância, de amor incondicional aos inimigos, de dar a outra face e por não treinar e equipar um exército aguerrido capacitado com armas pra enfrentar e vencer as forças do império romano.
-Os discípulos em geral
Mesmo depois da ressurreição, parece que havia um sentimento zelote que permeava latentemente o coração dos discípulos. A pergunta feita pelos seguidores de Jesus em Atos capítulo um representa um incômodo instalado no peito do israelita em geral. Jesus agora detinha todo poder no céu e na terra. Então vem a pergunta que não queria calar: “Senhor (kírios), será esse o tempo em que vais restaurar o reino de ISRAEL?”. Ou seja: “agora que o Senhor ressuscitou dos mortos e tem poder ilimitado, será esse o tempo certo para armares um poderoso exército para acabar de vez com o domínio romanos sobre nós?” Jesus responde que o avanço do Reino de Deus é absolutamente diferente do avanço dos reinos humanos: Recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas no mundo inteiro”. O reino de Deus será conquistado não no campo de batalha, mas no campo interno do coração dos homens, isso de forma sutil, como um grão de mostarda que rebenta subversiva e gradativamente no subsolo das consciências humanas e fecunda a terra frutificando liberdade, transformação e vida, sem precisar erguer uma adaga sequer.
- O julgamento de Cristo e Sua condenação
No julgamento de Jesus existe um grande equívoco em relação à Barrabás. Pilatos, o representante do poder romano, consulta o povo, quanto a um costume antigo: por ocasião da festa da Páscoa, soltava-se um dos prisioneiros, conforme o povo quisesse. Naquele momento, havia um preso muito conhecido, chamado Barrabás. Pilatos bradou ao povo: “Quem quereis que vos solte, a Barrabás ou a Jesus, chamado O Cristo?. Mas os principais sacerdote e os anciãos persuadiram o povo a que pedissem Barrabás, e fizessem morrer a Cristo”. Todos sabiam que Barrabás não era um simples batedor de carteiras ou um homicida qualquer. O povo preferiu a Barrabás por motivos políticos. Barrabás era um agitador político, um revolucionário, um zelote. Alguém que tinha atitude. Alguém que poderia resolver os problemas sociais da nação. Jesus não. Eis aí um rei fracassado, um boneco de pano nas mãos dos romanos, indefeso, um caniço trêmulo, machucado e sem iniciativa. Vai morrer na cruz como um rebelde comum dentre tantos que foram calados pela foice romana. Soltaram Barrabás, o bom de briga. Pilatos lavra a sentença de Jesus, condenado à pena capital pelo império romano por se intitular rei, concorrendo de frente com o Rei do Cosmos, o César. Mais uma vez o povo ignorava a verdadeira natureza e o conteúdo do Reino de Deus.
- A posição de Pedro e Paulo
Paulo defende a obediência às autoridades constituídas, devendo-se orar, honrar e respeitá-las, mas as Escrituras apresentam sempre um ponto de tensão nessa obediência: se a autoridade ultrapassar o domínio do Reino de Deus e os limites estabelecidos por Deus em Sua Palavra, deve-se então dizer: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens”. No tempo de Paulo, quem governava com cetro de ferro era Nero, o imperador maluco que queimava cristão pra iluminar seu palácio. Deve-se pagar tributo e honra, mas não obedeça se esse mesmo Estado de forma demoníaca pleitear espaço que não lhe pertence, querendo assumir a posição de Deus, e reivindicar aquilo que pertence somente a Ele. Aí é hora de dizer: Obediência absoluta só a Deus!
Conclusão
Finalmente, quero deixar aqui minha contribuição a respeito do tipo de política que devemos adotar e o que podemos fazer para as eleições que teremos ainda nesse ano de 2012 e após elas.
- Reflitamos. Se o Novo Testamento está impregnado de política, devemos nos munir do entendimento de que Jesus é o Senhor absoluto do Universo, e todas as estruturas e espaços da vida humana são permeados pela presença soberana Dele.
- Então, precisamos estudar o assunto despretensiosamente, livrando-nos da dicotomia nociva que separa o espiritual do carnal, o santo do profano, mentalidade errônea que se instaurou no ambiente cristão ao longo dos séculos, e descobrir que no mundo, tudo é de Deus, todos os espaços da vida estão imersas Nele e que essa área deve ser conquistada pelo Reino da luz e da liberdade.
- Pesquise a vida dos candidatos de acordo com a proposta das plataformas de seus partidos, se são propostas exequíveis e de interesse do povo. Depois, averigue se a vida do candidato corresponde ao cargo que ele está pleiteando, se tem cultura, capacidade administrativa, interesse real pelo povo e pela cidade. Se não houver nenhum deles que preencha os pré-requisitos básicos de honestidade, vote nos que são menos corruptos. Em última instância, anule seu voto, mas não se venda.
- Em seguida, não seja obrigado a reeleger candidatos que já derem provas concretas de incompetência ou que já tenham tido histórico de ações escusas como roubalheira e aproveitamento do dinheiro público.
- Depois das eleições tente acompanhar a carreira política do candidato cobrando e incentivando-o para que cumpra aquilo que prometeu no tempo de campanha eleitoral.
- Melhor ainda, independentemente do que os políticos fizerem, tente se engajar em programas sérios que visam melhorar as condições de pobreza da cidade, junte-se a ONGS, associações ou igrejas comprometidas com a causa do Reino de Deus, que tenham propostas de projetos de cidadania consciente, frentes significativas de ajuda às famílias carentes, planos estratégicos para libertar o povo da ignorância e da pobreza opressiva, provendo cursos técnicos profissionalizantes, bolsas integrais, programas de esporte e Inclusão social. Penso convictamente que são essas as saídas viáveis pra um futuro melhor para o nosso país já tão visceralmente inoculado pelo vírus da corrupção desde as entranhas de suas origens históricas.
- Ore, jejue, pregue, evangelize, compartilhe a graça, de graça, viva o Evangelho com alegria exuberante, e espere com uma fé cheia de esperança grandes mudanças vindas da parte de Deus. O único que pode operar milagres.
Pra não dizer que não falei de política - O cenário político no alvorecer do cristianismo e o papel do cristão na política hodierna

Introdução
Quem me conhece sabe que abomino politicagem e os malabarismos da política partidária. Mas por outro lado, sou muito inclinado a aceitar a boa política, que ajuda as pessoas a viverem na cidade, como diz o apóstolo Paulo, na polis, do modo digno do Evangelho de Cristo, uma política não utópica, que provê maior dignidade as pessoas, que ensina “a pescar”, que fornece acesso à educação, e capacita o cidadão com senso crítico, tornando-o livre, cônscio de seus direitos, e capaz de transformar outros indivíduos, famílias e bairros e mudar o quadro de miséria e ignorância do contexto de uma cidade inteira.
Nosso sistema político está apodrecido até a espinha dorsal e como o pecado que se alastra, está corrompido no seu início, meio e fim. A história política do Brasil nos mostrou que a maioria eleita pelo povo sofrido (que sempre é visto como massa de manipulação e moeda de troca), quando assumiu cargos públicos, inicialmente começou até com boas intensões, mas depois se tornou egocêntrica incontrolável, possessa de ganância, se alastrando no congresso nacional, nos governos e nas prefeituras, nas assembleias e tribunais, como ratos de esgoto insaciáveis, roubando, extorquindo, desviando verbas, malversando o dinheiro público e cometendo todo tipo de bandidagens. O pior é que o dinheiro, a influência e a autoridade que lhes são imputados os resguardam na impunidade, e jamais são condenados ou presos. Essa situação indigna só cresce, em face de pobreza extrema que gera toda sorte de malefícios à sociedade brasileira, um tumor purulento que supura corrupção e desmandos.
— A situação do Império Romano dominando a Palestina.
Por outro lado, para aqueles que são avessos à política e querem uma distância substancial dela, devem ser esclarecidos de que NÃO SE PODE LER O NOVO TESTAMENTO SEM O MÍNIMO DE CONHECIMENTO POLÍTICO e sem ser munidos de uma noção básica quanto à expectativa (política) dos cidadãos que povoavam as cidades da Palestina da época de Jesus e aguardavam a vinda de um Messias Libertador prometido pelos profetas do Antigo Testamento, que viria para acabar com a tirania opressora do Império Romano para sempre.
A história do nascimento de Jesus tão romanticamente contada por professoras piedosas em flanelógrafo, mostrando a família sagrada, o menino Jesus na palha da manjedoura junto como os pastores, bois e burrinhos esconde o pulso latejante do coração pisoteado do cidadão comum que vivia no território de Israel, cuja pirâmide social desproporcional era composta por uma pequena fatia na classe alta com os ricos saduceus, rabinos e sacerdotes do templo, esmagada no meio pela classe média que consistia de negociantes, fazendeiros e artesãos e tendo a base inchada da pirâmide, a esmagadora classe baixa com seus milhões de nômades sem terra, escravos, prostitutas, mendigos, loucos e enfermos de todo tipo, os pobres da terra, ESSES DESPREZADOS QUE FORAM O FOCO PRINCIPAL DA ATENÇÃO E AMOR DIRECIONADOS POR JESUS DE NAZARÉ QUE GEROU OS MILAGRES, A LIBERTAÇÃO E O BEM ESTAR DE MUITOS, MAS TAMBÉM A IRA DOS RELIGIOSOS CHEIOS DE ASSEPSIA MORALISTA. Os cobradores de impostos e publicanos faziam parte da classe baixa, apesar de serem ricos abastados.
Já há muito tempo Israel como nação não provava o que era liberdade. Desde a saída do cativeiro na Babilônia, foram dominados pela Grécia, pelos Ptolomeus (Egito), pelos Selêucidas (Síria) e depois de um período curto de liberdade conquistado pelos macabeus, para depois serem dominados pelos romanos. No tempo de Jesus, as taxas e impostos eram impraticáveis, e o povo não tinha maiores esperanças, a não ser apostar todas as fichas na vinda do Messias que viria libertar o povo da mão despótica do Império.
— A situação religiosa e os partidos políticos na Palestina.
- Os fariseus
Eram os separados do povo, observadores escrupulosos das leis rabínicas e mosaicas, não se aproximavam dos pecadores e impuros cerimoniais. Eram radicais conservadores que não se submetiam aos costumes da helenização, não aceitavam o domínio romano, no entanto, discordavam passivamente sem usarem a força das armas.
- Os saduceus
Eram ricos opulentos, detinham o poder político e religioso, mantinham o rendoso comércio de sacrifícios de animais no templo, controlavam a classe sacerdotal e a guarda do templo. Eram progressistas e tolerantes com a expansão dos costumes greco-romanos.
- Os essênios
Eram os separados do mundo. Não sacrificam no templo de Jerusalém, pois reputavam o templo poluído por um sacerdócio corrupto. Só usavam vestes brancas, considerando-se o remanescente exclusivo dos últimos dias.
- Os herodianos
Eram uma pequena minoria de judeus influentes que pertenciam à aristocracia de sacerdotes saduceus que por sua vez, apoiavam a dinastia herodiana e o governo romano que pusera Herodes, o Grande, como rei “marionete” em Jerusalém. Este, por sua vez, querendo “limpar sua barra” diante da antipatia geral dos judeus, construiu o fabuloso templo que Jesus pisou e ensinou muitas vezes.
- Os zelotes
Em contraposição, os zelotes eram revolucionários radicais, favoráveis à barrocada do despotismo romano, recusavam-se a pagar impostos, tributos e taxas, como subversivos inconsequentes que eram, empreenderam diversas revoltas e rebeliões contra o Império.
- Os escribas
Eram um grupo de profissionais, rabinos, doutores, mestres e advogados da Lei. Interpretavam e ensinavam a Lei do Antigo Testamento e tomavam decisões judiciais sobre casos que eram trazidos no cotidiano para resolverem. Interpretavam os preceitos da Lei e a aplicavam ao contexto da vida diária. A maioria dos escribas faziam parte da seita dos fariseus.
- O sinédrio
O superior tribunal dos judeus era o Grande Sinédrio. Reuniam-se na área do templo todos os dias, com exceção dos sábados e dias santificados. O sumo sacerdote presidia setenta juízes, ou anciãos, vindos dos partidos dos fariseus e saduceus. São “ as autoridades”, o “concílio”, “os principais sacerdotes”, os “anciãos e escribas” mencionados no Novo Testamento.
- O colégio apostólico e suas tendências internas.
Jesus, um rabino.
Jesus era considerado um rabino, pois possuía um corpo de discípulos postulantes, falava com autoridade de mestre sempre pondo à frente de suas assertivas a frase “em verdade, em verdade lhes digo”, falava com estruturas rítmicas fáceis de memorizar através das famosas parábolas e se utilizava de perguntas de retórica devolvendo a pergunta com a finalidade de melhor assimilação das verdades proferidas: “que vos parece?”.
JESUS NÃO APOIOU NENHUM DOS PARTIDOS POLÍTICOS OU SEITAS RELIGIOSAS DE SUA ÉPOCA, ao contrário, sempre batia de frente a hipocrisia religiosa, as injustiças sociais, as atitudes imorais das autoridades, até chamando Herodes de raposa, sempre mostrando os postulados do Reino de Deus demonstrado por ações concretas de transformação social, através de um amor prático operando milagres e defendendo a causa dos desmerecidos, curando-os e elevando sua autoestima e dignidade.
Tendências políticas no colégio apostólico. Os discípulos eram zelotes?
- Mateus e Simão
No corpo de discípulos havia pessoas de posturas políticas bem distintas. Exemplo disso é Mateus e Simão. Mateus era um cobrador de impostos, abertamente um colaboracionista do império romano. Por outro lado Jesus chama um subversivo, Simão, o zelote, absolutamente contra o império romano.
- Pedro e outros
Oscar Culmman defende a ideia de que Pedro tenha um comportamento zelote. Senão vejamos. Pedro era um líder natural de temperamento agressivo entre os discípulos, sempre assumindo a liderança do grupo dos seguidores de Cristo. Um dos possíveis indícios do pensamento zelote em Pedro foi o que aconteceu na noite fatídica do Getsêmane, mantendo uma adaga escondida debaixo do manto (costume zelote), quando estavam prendendo Jesus, desceu a adaga afiadíssima para atingir em cheio a cabeça de Malco, um dos soldado da guarda do templo, e este, tendo desviado por reflexo, foi atingido, mas o golpe atinge somente a orelha. Cullmman também garante que os irmãos Tiago e João não eram apelidados à toa de filhos do trovão, e quando os samaritanos rejeitaram os ensinamentos de Jesus, eles, se tivessem tal poder, mandariam descer fogo do céu para destruir os rebeldes impenitentes, uma atitude típica de zelotes radicais. Mais um: Judas Iscariotes. O nome não significaria “Homem de Keriot” mas pode ter vindo do arcádio Scarius, que significa revolucionário. A atitude de trair Jesus seria mais por decepção ideológica, pelo fato de ver Jesus, que se intitulava o Messias Libertador, pregar um reino de amor, de deposição das armas, de tolerância, de amor incondicional aos inimigos, de dar a outra face e por não treinar e equipar um exército aguerrido capacitado com armas pra enfrentar e vencer as forças do império romano.
-Os discípulos em geral
Mesmo depois da ressurreição, parece que havia um sentimento zelote que permeava latentemente o coração dos discípulos. A pergunta feita pelos seguidores de Jesus em Atos capítulo um representa um incômodo instalado no peito do israelita em geral. Jesus agora detinha todo poder no céu e na terra. Então vem a pergunta que não queria calar: “Senhor (kírios), será esse o tempo em que vais restaurar o reino de ISRAEL?”. Ou seja: “agora que o Senhor ressuscitou dos mortos e tem poder ilimitado, será esse o tempo certo para armares um poderoso exército para acabar de vez com o domínio romanos sobre nós?” Jesus responde que o avanço do Reino de Deus é absolutamente diferente do avanço dos reinos humanos: Recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas no mundo inteiro”. O reino de Deus será conquistado não no campo de batalha, mas no campo interno do coração dos homens, isso de forma sutil, como um grão de mostarda que rebenta subversiva e gradativamente no subsolo das consciências humanas e fecunda a terra frutificando liberdade, transformação e vida, sem precisar erguer uma adaga sequer.
- O julgamento de Cristo e Sua condenação
No julgamento de Jesus existe um grande equívoco em relação à Barrabás. Pilatos, o representante do poder romano, consulta o povo, quanto a um costume antigo: por ocasião da festa da Páscoa, soltava-se um dos prisioneiros, conforme o povo quisesse. Naquele momento, havia um preso muito conhecido, chamado Barrabás. Pilatos bradou ao povo: “Quem quereis que vos solte, a Barrabás ou a Jesus, chamado O Cristo?. Mas os principais sacerdote e os anciãos persuadiram o povo a que pedissem Barrabás, e fizessem morrer a Cristo”. Todos sabiam que Barrabás não era um simples batedor de carteiras ou um homicida qualquer. O povo preferiu a Barrabás por motivos políticos. Barrabás era um agitador político, um revolucionário, um zelote. Alguém que tinha atitude. Alguém que poderia resolver os problemas sociais da nação. Jesus não. Eis aí um rei fracassado, um boneco de pano nas mãos dos romanos, indefeso, um caniço trêmulo, machucado e sem iniciativa. Vai morrer na cruz como um rebelde comum dentre tantos que foram calados pela foice romana. Soltaram Barrabás, o bom de briga. Pilatos lavra a sentença de Jesus, condenado à pena capital pelo império romano por se intitular rei, concorrendo de frente com o Rei do Cosmos, o César. Mais uma vez o povo ignorava a verdadeira natureza e o conteúdo do Reino de Deus.
- A posição de Pedro e Paulo
Paulo defende a obediência às autoridades constituídas, devendo-se orar, honrar e respeitá-las, mas as Escrituras apresentam sempre um ponto de tensão nessa obediência: se a autoridade ultrapassar o domínio do Reino de Deus e os limites estabelecidos por Deus em Sua Palavra, deve-se então dizer: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens”. No tempo de Paulo, quem governava com cetro de ferro era Nero, o imperador maluco que queimava cristão pra iluminar seu palácio. Deve-se pagar tributo e honra, mas não obedeça se esse mesmo Estado de forma demoníaca pleitear espaço que não lhe pertence, querendo assumir a posição de Deus, e reivindicar aquilo que pertence somente a Ele. Aí é hora de dizer: Obediência absoluta só a Deus!
Conclusão
Finalmente, quero deixar aqui minha contribuição a respeito do tipo de política que devemos adotar e o que podemos fazer para as eleições que teremos ainda nesse ano de 2012 e após elas.
- Reflitamos. Se o Novo Testamento está impregnado de política, devemos nos munir do entendimento de que Jesus é o Senhor absoluto do Universo, e todas as estruturas e espaços da vida humana são permeados pela presença soberana Dele.
- Então, precisamos estudar o assunto despretensiosamente, livrando-nos da dicotomia nociva que separa o espiritual do carnal, o santo do profano, mentalidade errônea que se instaurou no ambiente cristão ao longo dos séculos, e descobrir que no mundo, tudo é de Deus, todos os espaços da vida estão imersas Nele e que essa área deve ser conquistada pelo Reino da luz e da liberdade.
- Pesquise a vida dos candidatos de acordo com a proposta das plataformas de seus partidos, se são propostas exequíveis e de interesse do povo. Depois, averigue se a vida do candidato corresponde ao cargo que ele está pleiteando, se tem cultura, capacidade administrativa, interesse real pelo povo e pela cidade. Se não houver nenhum deles que preencha os pré-requisitos básicos de honestidade, vote nos que são menos corruptos. Em última instância, anule seu voto, mas não se venda.
- Em seguida, não seja obrigado a reeleger candidatos que já derem provas concretas de incompetência ou que já tenham tido histórico de ações escusas como roubalheira e aproveitamento do dinheiro público.
- Depois das eleições tente acompanhar a carreira política do candidato cobrando e incentivando-o para que cumpra aquilo que prometeu no tempo de campanha eleitoral.
- Melhor ainda, independentemente do que os políticos fizerem, tente se engajar em programas sérios que visam melhorar as condições de pobreza da cidade, junte-se a ONGS, associações ou igrejas comprometidas com a causa do Reino de Deus, que tenham propostas de projetos de cidadania consciente, frentes significativas de ajuda às famílias carentes, planos estratégicos para libertar o povo da ignorância e da pobreza opressiva, provendo cursos técnicos profissionalizantes, bolsas integrais, programas de esporte e Inclusão social. Penso convictamente que são essas as saídas viáveis pra um futuro melhor para o nosso país já tão visceralmente inoculado pelo vírus da corrupção desde as entranhas de suas origens históricas.
- Ore, jejue, pregue, evangelize, compartilhe a graça, de graça, viva o Evangelho com alegria exuberante, e espere com uma fé cheia de esperança grandes mudanças vindas da parte de Deus. O único que pode operar milagres.
Fonte: diplomatizzando.blogspot.com.br
Publicado no dia 19/09
Rolf Kuntz: um demolidor de mitos economicos
Rolf Kuntz é um jornalista e editorialista econômico do Estadão que, ao longo dos anos, tem comentado as medidas de política econômica dos governos brasileiros. Sempre realista, um tantinho irônico, mas sobretudo certeiro, quanto aos acertos e desacertos -- estes mais do que aqueles -- dos responsáveis econômicos de cada governo.
Esta série de artigos recentes comenta aspectos cruciais da conjuntura econômica brasileira.
Diminuir para crescer
Rolf Kuntz - O Estado de S.Paulo, 19 de setembro de 2012
A presidente Dilma Rousseff pôs em xeque mais uma parte da "herança bendita", ao autorizar o corte de 35% do pessoal de Furnas, passo necessário para o aumento da eficiência da empresa, segundo seu presidente, Flávio Decat. Oito anos de empreguismo desenfreado e de subordinação de toda a máquina federal aos objetivos políticos - e até pessoais - do presidente Luiz Inácio Lula da Silva causaram danos enormes ao aparelho de Estado. Os estragos impostos à Petrobrás são hoje muito claros. Foram revelados de forma inequívoca pela nova presidente da empresa, Graça Foster. Apesar de seus esforços para amaciar as denúncias e evitar conflitos abertos com a administração anterior, ela disse o necessário para qualificar a experiência dos oito anos anteriores. Metas irrealistas, projetos mal concebidos, desperdício de recursos e preços distorcidos foram algumas das marcas desse período.
O mesmo estilo de administração inflou os quadros de todos os segmentos do setor público federal. Em dezembro de 2010, o pessoal próprio das estatais era formado por 497.020 funcionários, segundo o Ministério do Planejamento. Em 2002, antes do início da gestão petista, havia 369.658. Houve, portanto, aumento de 34,4% nesse período. A expansão foi praticamente a mesma no setor elétrico - 34,6%, de 22.190 para 27.311 registrados. Em Furnas, a variação foi de 3.453 funcionários em 2002 para 4.906 em 2010 - um crescimento de 42,1%, bem superior à média do setor. O quadro atual, segundo informação divulgada na segunda-feira pela empresa, é formado por cerca de 6,4 mil empregados. O objetivo é reduzi-lo a 4,2 mil. A mudança, é importante notar, deve ocorrer sem prejuízo para a empresa. Ao contrário: o objetivo é torná-la mais ágil e mais capaz de competir. A reforma, segundo o presidente da Eletrobrás, José da Costa Carvalho Neto, será estendida às demais empresas do grupo.
Ao anunciar a redução de encargos sobre as contas de eletricidade, na semana passada, a presidente Dilma Rousseff permitiu-se um autoelogio, estendido, naturalmente, a seu padrinho político e antecessor no Palácio do Planalto. A era dos apagões, segundo a presidente, havia ficado para trás, numa referência ao grande blecaute do governo tucano. Não precisaria, para valorizar a redução de encargos, apelar para uma escandalosa inverdade. A história conhecida de todos os brasileiros é bem diferente. O grande apagão da virada do século foi substituído por uma porção de apagões de menor duração e de enorme extensão territorial. Os exemplos são muitos, mas deve ser suficiente a recordação de alguns. Dezoito Estados ficaram sem energia elétrica em 10 de novembro de 2009, depois de uma pane em Itaipu. Em 10 de fevereiro de 2010, oito Estados nordestinos ficaram sem eletricidade. Nos dias 3 e 4 de fevereiro de 2011, o mesmo número de Estados enfrentou um apagão, no Nordeste, por uma falha no sistema Chesf. Seis dias depois, as vítimas foram 2,5 milhões de pessoas na área metropolitana de São Paulo. Em outras palavras: com muito mais funcionários na folha de pagamento, o sistema continuou funcionando muito mal, com graves falhas técnicas, fiscalização deficiente e baixa regulação.
Nesse, como em vários outros campos da administração federal, o aumento dos quadros foi amplamente desproporcional à evolução da qualidade dos serviços. A capacidade geradora de todo o sistema nacional de energia elétrica aumentou 36,3% entre 2002 e 2010, mas o País continuou sujeito a falhas graves no fornecimento. Nessa área, como na maior parte do governo, os valores da produtividade e da qualidade ficaram em plano inferior, porque os objetivos do grupo governante eram muito diferentes. Vale a pena lembrar uma observação feita por bons analistas logo no começo da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: ele havia chegado a Brasília com um projeto de poder, mas sem projeto de governo. Esse detalhe nunca foi alterado em oito anos de mandato.
A ocupação da máquina pelos amigos, partidários e aliados obedeceu estritamente ao projeto de poder, assim como a centralização do comando da Petrobrás no Palácio do Planalto. A desastrada aliança com o governo venezuelano para a construção da Refinaria Abreu e Lima foi uma das consequências da subordinação das metas gerenciais aos objetivos políticos. O loteamento das empresas do setor elétrico seguiu o mesmo padrão, assim como a desmoralização das agências reguladoras. A presidente Dilma Rousseff nunca deveria esquecer esses fatos. Pode tentar disfarçá-los, em sua retórica, mas só conseguirá governar e deixar uma herança melhor que a recebida se mudar de rumo. O reconhecimento da ineficiência de Furnas e de outras empresas do setor elétrico é um avanço, talvez penoso, nessa direção.
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Desatando a economia
Rolf Kuntz - O Estado de S.Paulo, 12 de setembro de 2012
A presidente Dilma Rousseff deixará um bom legado se conseguir desatar a economia brasileira e liberar seu potencial de crescimento, por enquanto limitado a uns 4% ao ano. É um limite muito estreito para um país com um passivo social tão grande e exposto a uma competição internacional cada vez mais dura. Não se irá muito longe investindo cerca de 19% do Produto Interno Bruto (PIB), como nos últimos quatro anos, e ainda será preciso um bom esforço para alcançar os 24% indicados como meta oficial para o médio prazo. Não se trata só de justificar, por prestígio, a manutenção da letra B na sigla Bric. Longe de ser um luxo, a expansão econômica acelerada é uma necessidade para os países desse grupo. O Brasil tem andado fora do ritmo. Agora, o novo plano de logística, a desoneração da folha de salários e a redução da conta de energia elétrica podem ser o início de uma nova política, menos populista, menos retórica e mais voltada que a do governo anterior para o aumento da eficiência geral da economia. Essa nova orientação é por enquanto uma promessa. Mas a ação da presidente pelo menos indica o reconhecimento de problemas importantes e nunca enfrentados nos últimos dez anos.
O próprio governo é um desses problemas. A presidente o reconhece, implicitamente, ao atribuir maior importância ao setor privado para a expansão e a modernização da infraestrutura de transportes. Seu discurso é marcado pelas bravatas de sempre, quando ela critica a ação das concessionárias, cobra maior respeito aos consumidores e anuncia mais controle sobre as prestadoras de serviços ("vamos acabar com monopólios do passado e serviços distorcidos", prometeu). Mas ela sabe, sem admiti-lo, do péssimo desempenho do setor público na elaboração e na execução de projetos. Isso vale para a administração direta e para a indireta.
Em março, o Tribunal de Contas da União (TCU) alertou para o atraso em quase todos os projetos de adaptação dos portos para a Copa de 2014. Na maior parte, as obras nem haviam começado e em vários casos havia sinais de graves irregularidades. No primeiro semestre, as sete Companhias Docas, empresas mistas, aplicaram apenas 7,5% do orçamento previsto para o ano. Um pacote para o setor portuário, ainda em elaboração, deve ser lançado em breve. A importância do problema ultrapassa amplamente os compromissos assumidos para a realização dos jogos. Os planos do governo incluem a participação do setor privado na administração tanto de portos quanto de aeroportos.
O Ministério dos Transportes, responsável por vários dos maiores projetos do governo federal, foi o ponto inicial da faxina realizada no ano passado pela presidente Dilma Rousseff. Depois da limpeza, seus desembolsos emperraram. Neste ano, até agosto, ficaram R$ 2,5 bilhões abaixo do total aplicado um ano antes, R$ 5,5 bilhões. Aparentemente, é muito mais complicado cuidar dos investimentos em rodovias e ferrovias quando o administrador tem de respeitar certas regras de bom comportamento. No mês passado, 236 ações previstas para este ano continuavam paralisadas no ministério, segundo levantamento divulgado pela organização Contas Abertas.
A administração federal nem sempre foi tão incompetente. Raramente foi flagrada em tantas irregularidades. Além disso, talvez nunca tenha sido tão amplamente loteada e aparelhada para atender a objetivos particulares - pessoais ou partidários - de governantes e de seus aliados. A crônica dos desmandos cometidos no Ministério dos Transportes, desde o governo passado, ainda é conhecida de forma incompleta. Novos detalhes apareceram recentemente em depoimentos prestados à CPI do Cachoeira. Talvez nem todas as novidades sejam total ou parcialmente verdadeiras, mas nenhuma delas destoa das histórias correntes sobre os costumes políticos de Brasília.
Aparelhamento, loteamento de governo e irregularidades no uso de recursos públicos prejudicam tanto a moralidade quanto a eficiência da administração pública. São também problemas econômicos, porque se refletem na produtividade geral do País e comprometem o poder de competição dos produtores nacionais. Quando a presidente lançou seu plano de logística, anunciando concessões e parcerias público-privadas, alguns analistas apontaram uma possível mudança ideológica. Poderiam ter apelado para uma explicação mais simples e provavelmente mais realista: a alternativa seria uma reforma muito mais ampla e politicamente muito mais difícil de toda a máquina federal. Uma faxina mais completa seria apenas parte desse trabalho. Ainda faltaria recriar e difundir os valores de competência e de eficiência existentes, em outros tempos, pelo menos em setores da administração. Mas também para uma associação com o setor privado o governo precisará ser mais competente.
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Entre a crise e a ineficiência
Rolf Kuntz - O Estado de S.Paulo, 05 de setembro de 2012
Mais uma vez o governo atribuiu aos fados, isto é, à crise internacional, o mau desempenho do Brasil no comércio exterior. No mês passado o País faturou com a exportação apenas US$ 22,4 bilhões, valor 14,4% menor que o de um ano antes. Em oito meses, a receita comercial ficou 4,8% abaixo da obtida entre janeiro e agosto do ano passado. Nesse período, o gasto com a importação recuou apenas 0,7%, pela média dos dias úteis. Ou seja, a crise externa afetou mais as vendas do que as compras do Brasil. Os deuses devem estar prejudicando mais o Brasil do que os concorrentes. O efeito da retração global é inegável, até pelo menor dinamismo da China, mas essa explicação conta apenas uma parte da história. Outra parte, provavelmente muito mais importante, aparece num documento divulgado um dia depois da balança comercial brasileira. Embora tenha avançado cinco posições, o Brasil ficou em 48.º lugar, entre 144 países, no Índice de Competitividade Global 2012-2013 do Fórum Econômico Mundial. Os principais entraves estão relacionados a instituições, ao seu funcionamento e a outros fatores vinculados à ação do governo, como a infraestrutura e a instrução. Fica mais difícil culpar os deuses, quando se examina o dia a dia de quem precisa de 13 procedimentos e 119 dias para iniciar a exploração de um negócio ou recebe a educação primária brasileira, classificada em 126.º lugar pelo critério de qualidade.
A maior parte da América Latina continua mal colocada na lista do Fórum Econômico Mundial. O Chile, na 33.ª posição, e o Panamá, na 40.ª, aparecem à frente do Brasil. A Argentina passou do 86.º para o 94.º lugar, principalmente por causa da piora das condições macroeconômicas (inflação alta e contas públicas em mau estado), das condições institucionais e do mau funcionamento dos mercados de bens e de mão de obra - óbvias consequências da contínua tentativa do governo de controlar preços, falsificar índices e intervir nos negócios. Nenhuma surpresa, portanto. A degradação do Mercosul reflete a devastação causada pelo governo na capacidade da indústria argentina de produzir e de competir. Poderia ser surpreendente a inclinação do governo brasileiro para imitar o vizinho, apelando para a centralização e para o protecionismo, mas nem isso parece estranho, depois de um ano e meio de mandato da presidente Dilma Rousseff.
Os autores do relatório atribuem o avanço do Brasil para o 48.º lugar a uma "relativa melhora nas condições macroeconômicas" e ao maior uso da tecnologia de informação e de comunicação (54.º posto). O País continua beneficiado, na avaliação dos pesquisadores, pela "sofisticação da comunidade empresarial" (33.ª posição) e pelo tamanho do mercado interno (7.º posto). Mas a capacidade brasileira de competir continua emperrada por fatores citados em várias edições do estudo.
Os pesquisadores destacam no texto a escassa confiança nos políticos (121.º lugar), a baixa eficiência do governo (111.º), o desperdício no gasto público (135.º), a má infraestrutura de transporte (79.º) e a lamentável qualidade da educação (116.º), além das dificuldades para abrir um negócio e das distorções causadas pela tributação (144.º).
Os fatores positivos e negativos são apresentados em duas páginas de tabelas detalhadas e gráficos. A análise e a classificação refletem dados estatísticos (números da produção e do mercado, carga tributária e contas fiscais, por exemplo) e avaliações coletadas entre executivos e especialistas. A relação dos "fatores mais problemáticos" para os negócios é ordenada de acordo com as preocupações indicadas pelos entrevistados. Nos cinco primeiros lugares aparecem os regulamentos tributários, a oferta inadequada de infraestrutura, as alíquotas dos impostos, a burocracia governamental e as normas trabalhistas, apontadas como restritivas. O acesso ao financiamento é citado em 8.º lugar, logo depois da corrupção (7.º) e da educação ruim da força de trabalho (6.º).
Antes da crise de 2008 os exportadores brasileiros já perdiam espaço no mercado internacional. Os entraves tornaram-se mais importantes nos anos seguintes, mas o governo preferiu atribuir as dificuldades ao desajuste cambial causado pela expansão monetária no mundo rico. O câmbio tem sido, em 2012, muito mais favorável que nos anos anteriores, mas a produção industrial diminuiu, apesar do crescimento do consumo.
A inundação de dólares foi interrompida, mas a de produtos estrangeiros continua. A exportação do agronegócio, no entanto, cresceu neste ano e produziu até julho um superávit de US$ 44,5 bilhões, apesar da crise global e dos entraves internos. Há, no setor, um excedente de competitividade - por enquanto. Alguma autoridade poderá, num momento de iluminação, inventar mais algum imposto sobre a exportação de alimentos e matérias-primas. Alguns economistas geniais já têm defendido essa ideia devastadora.
Publicado no dia 19/09
Rolf Kuntz: um demolidor de mitos economicos
Rolf Kuntz é um jornalista e editorialista econômico do Estadão que, ao longo dos anos, tem comentado as medidas de política econômica dos governos brasileiros. Sempre realista, um tantinho irônico, mas sobretudo certeiro, quanto aos acertos e desacertos -- estes mais do que aqueles -- dos responsáveis econômicos de cada governo.
Esta série de artigos recentes comenta aspectos cruciais da conjuntura econômica brasileira.

Rolf Kuntz - O Estado de S.Paulo, 19 de setembro de 2012
A presidente Dilma Rousseff pôs em xeque mais uma parte da "herança bendita", ao autorizar o corte de 35% do pessoal de Furnas, passo necessário para o aumento da eficiência da empresa, segundo seu presidente, Flávio Decat. Oito anos de empreguismo desenfreado e de subordinação de toda a máquina federal aos objetivos políticos - e até pessoais - do presidente Luiz Inácio Lula da Silva causaram danos enormes ao aparelho de Estado. Os estragos impostos à Petrobrás são hoje muito claros. Foram revelados de forma inequívoca pela nova presidente da empresa, Graça Foster. Apesar de seus esforços para amaciar as denúncias e evitar conflitos abertos com a administração anterior, ela disse o necessário para qualificar a experiência dos oito anos anteriores. Metas irrealistas, projetos mal concebidos, desperdício de recursos e preços distorcidos foram algumas das marcas desse período.
O mesmo estilo de administração inflou os quadros de todos os segmentos do setor público federal. Em dezembro de 2010, o pessoal próprio das estatais era formado por 497.020 funcionários, segundo o Ministério do Planejamento. Em 2002, antes do início da gestão petista, havia 369.658. Houve, portanto, aumento de 34,4% nesse período. A expansão foi praticamente a mesma no setor elétrico - 34,6%, de 22.190 para 27.311 registrados. Em Furnas, a variação foi de 3.453 funcionários em 2002 para 4.906 em 2010 - um crescimento de 42,1%, bem superior à média do setor. O quadro atual, segundo informação divulgada na segunda-feira pela empresa, é formado por cerca de 6,4 mil empregados. O objetivo é reduzi-lo a 4,2 mil. A mudança, é importante notar, deve ocorrer sem prejuízo para a empresa. Ao contrário: o objetivo é torná-la mais ágil e mais capaz de competir. A reforma, segundo o presidente da Eletrobrás, José da Costa Carvalho Neto, será estendida às demais empresas do grupo.
Ao anunciar a redução de encargos sobre as contas de eletricidade, na semana passada, a presidente Dilma Rousseff permitiu-se um autoelogio, estendido, naturalmente, a seu padrinho político e antecessor no Palácio do Planalto. A era dos apagões, segundo a presidente, havia ficado para trás, numa referência ao grande blecaute do governo tucano. Não precisaria, para valorizar a redução de encargos, apelar para uma escandalosa inverdade. A história conhecida de todos os brasileiros é bem diferente. O grande apagão da virada do século foi substituído por uma porção de apagões de menor duração e de enorme extensão territorial. Os exemplos são muitos, mas deve ser suficiente a recordação de alguns. Dezoito Estados ficaram sem energia elétrica em 10 de novembro de 2009, depois de uma pane em Itaipu. Em 10 de fevereiro de 2010, oito Estados nordestinos ficaram sem eletricidade. Nos dias 3 e 4 de fevereiro de 2011, o mesmo número de Estados enfrentou um apagão, no Nordeste, por uma falha no sistema Chesf. Seis dias depois, as vítimas foram 2,5 milhões de pessoas na área metropolitana de São Paulo. Em outras palavras: com muito mais funcionários na folha de pagamento, o sistema continuou funcionando muito mal, com graves falhas técnicas, fiscalização deficiente e baixa regulação.
Nesse, como em vários outros campos da administração federal, o aumento dos quadros foi amplamente desproporcional à evolução da qualidade dos serviços. A capacidade geradora de todo o sistema nacional de energia elétrica aumentou 36,3% entre 2002 e 2010, mas o País continuou sujeito a falhas graves no fornecimento. Nessa área, como na maior parte do governo, os valores da produtividade e da qualidade ficaram em plano inferior, porque os objetivos do grupo governante eram muito diferentes. Vale a pena lembrar uma observação feita por bons analistas logo no começo da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: ele havia chegado a Brasília com um projeto de poder, mas sem projeto de governo. Esse detalhe nunca foi alterado em oito anos de mandato.
A ocupação da máquina pelos amigos, partidários e aliados obedeceu estritamente ao projeto de poder, assim como a centralização do comando da Petrobrás no Palácio do Planalto. A desastrada aliança com o governo venezuelano para a construção da Refinaria Abreu e Lima foi uma das consequências da subordinação das metas gerenciais aos objetivos políticos. O loteamento das empresas do setor elétrico seguiu o mesmo padrão, assim como a desmoralização das agências reguladoras. A presidente Dilma Rousseff nunca deveria esquecer esses fatos. Pode tentar disfarçá-los, em sua retórica, mas só conseguirá governar e deixar uma herança melhor que a recebida se mudar de rumo. O reconhecimento da ineficiência de Furnas e de outras empresas do setor elétrico é um avanço, talvez penoso, nessa direção.
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Desatando a economia
Rolf Kuntz - O Estado de S.Paulo, 12 de setembro de 2012
A presidente Dilma Rousseff deixará um bom legado se conseguir desatar a economia brasileira e liberar seu potencial de crescimento, por enquanto limitado a uns 4% ao ano. É um limite muito estreito para um país com um passivo social tão grande e exposto a uma competição internacional cada vez mais dura. Não se irá muito longe investindo cerca de 19% do Produto Interno Bruto (PIB), como nos últimos quatro anos, e ainda será preciso um bom esforço para alcançar os 24% indicados como meta oficial para o médio prazo. Não se trata só de justificar, por prestígio, a manutenção da letra B na sigla Bric. Longe de ser um luxo, a expansão econômica acelerada é uma necessidade para os países desse grupo. O Brasil tem andado fora do ritmo. Agora, o novo plano de logística, a desoneração da folha de salários e a redução da conta de energia elétrica podem ser o início de uma nova política, menos populista, menos retórica e mais voltada que a do governo anterior para o aumento da eficiência geral da economia. Essa nova orientação é por enquanto uma promessa. Mas a ação da presidente pelo menos indica o reconhecimento de problemas importantes e nunca enfrentados nos últimos dez anos.
O próprio governo é um desses problemas. A presidente o reconhece, implicitamente, ao atribuir maior importância ao setor privado para a expansão e a modernização da infraestrutura de transportes. Seu discurso é marcado pelas bravatas de sempre, quando ela critica a ação das concessionárias, cobra maior respeito aos consumidores e anuncia mais controle sobre as prestadoras de serviços ("vamos acabar com monopólios do passado e serviços distorcidos", prometeu). Mas ela sabe, sem admiti-lo, do péssimo desempenho do setor público na elaboração e na execução de projetos. Isso vale para a administração direta e para a indireta.
Em março, o Tribunal de Contas da União (TCU) alertou para o atraso em quase todos os projetos de adaptação dos portos para a Copa de 2014. Na maior parte, as obras nem haviam começado e em vários casos havia sinais de graves irregularidades. No primeiro semestre, as sete Companhias Docas, empresas mistas, aplicaram apenas 7,5% do orçamento previsto para o ano. Um pacote para o setor portuário, ainda em elaboração, deve ser lançado em breve. A importância do problema ultrapassa amplamente os compromissos assumidos para a realização dos jogos. Os planos do governo incluem a participação do setor privado na administração tanto de portos quanto de aeroportos.
O Ministério dos Transportes, responsável por vários dos maiores projetos do governo federal, foi o ponto inicial da faxina realizada no ano passado pela presidente Dilma Rousseff. Depois da limpeza, seus desembolsos emperraram. Neste ano, até agosto, ficaram R$ 2,5 bilhões abaixo do total aplicado um ano antes, R$ 5,5 bilhões. Aparentemente, é muito mais complicado cuidar dos investimentos em rodovias e ferrovias quando o administrador tem de respeitar certas regras de bom comportamento. No mês passado, 236 ações previstas para este ano continuavam paralisadas no ministério, segundo levantamento divulgado pela organização Contas Abertas.
A administração federal nem sempre foi tão incompetente. Raramente foi flagrada em tantas irregularidades. Além disso, talvez nunca tenha sido tão amplamente loteada e aparelhada para atender a objetivos particulares - pessoais ou partidários - de governantes e de seus aliados. A crônica dos desmandos cometidos no Ministério dos Transportes, desde o governo passado, ainda é conhecida de forma incompleta. Novos detalhes apareceram recentemente em depoimentos prestados à CPI do Cachoeira. Talvez nem todas as novidades sejam total ou parcialmente verdadeiras, mas nenhuma delas destoa das histórias correntes sobre os costumes políticos de Brasília.
Aparelhamento, loteamento de governo e irregularidades no uso de recursos públicos prejudicam tanto a moralidade quanto a eficiência da administração pública. São também problemas econômicos, porque se refletem na produtividade geral do País e comprometem o poder de competição dos produtores nacionais. Quando a presidente lançou seu plano de logística, anunciando concessões e parcerias público-privadas, alguns analistas apontaram uma possível mudança ideológica. Poderiam ter apelado para uma explicação mais simples e provavelmente mais realista: a alternativa seria uma reforma muito mais ampla e politicamente muito mais difícil de toda a máquina federal. Uma faxina mais completa seria apenas parte desse trabalho. Ainda faltaria recriar e difundir os valores de competência e de eficiência existentes, em outros tempos, pelo menos em setores da administração. Mas também para uma associação com o setor privado o governo precisará ser mais competente.
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Entre a crise e a ineficiência
Rolf Kuntz - O Estado de S.Paulo, 05 de setembro de 2012
Mais uma vez o governo atribuiu aos fados, isto é, à crise internacional, o mau desempenho do Brasil no comércio exterior. No mês passado o País faturou com a exportação apenas US$ 22,4 bilhões, valor 14,4% menor que o de um ano antes. Em oito meses, a receita comercial ficou 4,8% abaixo da obtida entre janeiro e agosto do ano passado. Nesse período, o gasto com a importação recuou apenas 0,7%, pela média dos dias úteis. Ou seja, a crise externa afetou mais as vendas do que as compras do Brasil. Os deuses devem estar prejudicando mais o Brasil do que os concorrentes. O efeito da retração global é inegável, até pelo menor dinamismo da China, mas essa explicação conta apenas uma parte da história. Outra parte, provavelmente muito mais importante, aparece num documento divulgado um dia depois da balança comercial brasileira. Embora tenha avançado cinco posições, o Brasil ficou em 48.º lugar, entre 144 países, no Índice de Competitividade Global 2012-2013 do Fórum Econômico Mundial. Os principais entraves estão relacionados a instituições, ao seu funcionamento e a outros fatores vinculados à ação do governo, como a infraestrutura e a instrução. Fica mais difícil culpar os deuses, quando se examina o dia a dia de quem precisa de 13 procedimentos e 119 dias para iniciar a exploração de um negócio ou recebe a educação primária brasileira, classificada em 126.º lugar pelo critério de qualidade.
A maior parte da América Latina continua mal colocada na lista do Fórum Econômico Mundial. O Chile, na 33.ª posição, e o Panamá, na 40.ª, aparecem à frente do Brasil. A Argentina passou do 86.º para o 94.º lugar, principalmente por causa da piora das condições macroeconômicas (inflação alta e contas públicas em mau estado), das condições institucionais e do mau funcionamento dos mercados de bens e de mão de obra - óbvias consequências da contínua tentativa do governo de controlar preços, falsificar índices e intervir nos negócios. Nenhuma surpresa, portanto. A degradação do Mercosul reflete a devastação causada pelo governo na capacidade da indústria argentina de produzir e de competir. Poderia ser surpreendente a inclinação do governo brasileiro para imitar o vizinho, apelando para a centralização e para o protecionismo, mas nem isso parece estranho, depois de um ano e meio de mandato da presidente Dilma Rousseff.
Os autores do relatório atribuem o avanço do Brasil para o 48.º lugar a uma "relativa melhora nas condições macroeconômicas" e ao maior uso da tecnologia de informação e de comunicação (54.º posto). O País continua beneficiado, na avaliação dos pesquisadores, pela "sofisticação da comunidade empresarial" (33.ª posição) e pelo tamanho do mercado interno (7.º posto). Mas a capacidade brasileira de competir continua emperrada por fatores citados em várias edições do estudo.
Os pesquisadores destacam no texto a escassa confiança nos políticos (121.º lugar), a baixa eficiência do governo (111.º), o desperdício no gasto público (135.º), a má infraestrutura de transporte (79.º) e a lamentável qualidade da educação (116.º), além das dificuldades para abrir um negócio e das distorções causadas pela tributação (144.º).
Os fatores positivos e negativos são apresentados em duas páginas de tabelas detalhadas e gráficos. A análise e a classificação refletem dados estatísticos (números da produção e do mercado, carga tributária e contas fiscais, por exemplo) e avaliações coletadas entre executivos e especialistas. A relação dos "fatores mais problemáticos" para os negócios é ordenada de acordo com as preocupações indicadas pelos entrevistados. Nos cinco primeiros lugares aparecem os regulamentos tributários, a oferta inadequada de infraestrutura, as alíquotas dos impostos, a burocracia governamental e as normas trabalhistas, apontadas como restritivas. O acesso ao financiamento é citado em 8.º lugar, logo depois da corrupção (7.º) e da educação ruim da força de trabalho (6.º).
Antes da crise de 2008 os exportadores brasileiros já perdiam espaço no mercado internacional. Os entraves tornaram-se mais importantes nos anos seguintes, mas o governo preferiu atribuir as dificuldades ao desajuste cambial causado pela expansão monetária no mundo rico. O câmbio tem sido, em 2012, muito mais favorável que nos anos anteriores, mas a produção industrial diminuiu, apesar do crescimento do consumo.
A inundação de dólares foi interrompida, mas a de produtos estrangeiros continua. A exportação do agronegócio, no entanto, cresceu neste ano e produziu até julho um superávit de US$ 44,5 bilhões, apesar da crise global e dos entraves internos. Há, no setor, um excedente de competitividade - por enquanto. Alguma autoridade poderá, num momento de iluminação, inventar mais algum imposto sobre a exportação de alimentos e matérias-primas. Alguns economistas geniais já têm defendido essa ideia devastadora.